quarta-feira, 7 de agosto de 2013

QUEM EDUCA OS EDUCADORES?

Quem educa os educadores?

Publicada: 05/08/2013

Caderno especial da Folha de S. Paulo apresenta perfil e formação dos docentes que atuam na educação básica brasileira


Formação do professor brasileiro tem muita carga teórica e pouca preparação prática

Na avaliação dos gestores, a formação dos futuros docentes da educação básica é um entrave para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil devido à falta de preparo para atuar na sala de aula

"Não dá para formar um professor só lendo Piaget." A frase é do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em alusão à carga teórica dos cursos que formam docentes para a escola básica, como a literatura de Jean Piaget, pensador do século 20. Foi dita recentemente em encontro com mil secretários municipais da área de ensino. Arrancou aplausos. 

 A declaração sintetiza a avaliação dos gestores de que a formação universitária dos futuros professores da educação básica é um dos entraves para a melhoria da qualidade do ensino no país. A reclamação é que os futuros docentes têm muito contato com teóricos da educação, mas terminam o curso despreparados para enfrentar salas de aulas.

Carga horária

Um dos mais amplos estudos no país sobre currículos das licenciaturas foi feito recentemente pelas fundações Victor Civita e Carlos Chagas. O trabalho apontou que nos cursos de licenciatura do país que formam professores de português e de ciências, a carga horária voltada à docência fica em 10%. Já o tempo destinado aos conhecimentos específicos das áreas passa dos 50%. "Os professores chegam às escolas com bom conhecimento da sua disciplina, mas não sabem como ensinar", disse à Folha o secretário estadual de Educação de São Paulo, Herman Voorwald.

Na opinião do secretário, cuja rede tem 200 mil professores, um docente de matemática, por exemplo, é muito mais um matemático do que um professor. Para Voorwald, as licenciaturas deveriam ter menos conteúdos específicos das matérias e mais técnicas sobre como dar aulas. Presidente da comissão de graduação da Faculdade de Educação da USP, Manoel Oriosvaldo discorda que a formatação dos cursos de pedagogia e de licenciatura seja responsável pela má qualidade do ensino básico. "Com o salário que se paga ao professor, é difícil convencer um jovem a assumir uma sala de aula", afirma. "Se as condições de trabalho melhoram, sobe o nível de quem seguirá na carreira."

Especificamente sobre os currículos, ele diz que diminuir a teoria dos cursos "simplifica o papel do professor".  Para Oriosvaldo, a teoria permite que o professor consiga refletir sobre sua atividade constantemente. E corrigi-la quando necessário. Além disso, o docente deve ter condição de ensinar aos alunos o histórico que levou à resolução de uma equação, por exemplo. Assim, o jovem conseguirá também produzir conhecimento.

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