terça-feira, 26 de março de 2013

FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA: EDUCAÇÃO DE QUALIDADE




Todo mundo defende que o professor e a professora têm que ser valorizados. Mas o que significa concretamente valorizar o(a) profissional da educação? Que medidas efetivas são necessárias para mudar o cenário de desvalorização da profissão? É preciso superar duas tendências das últimas décadas: culpar os docentes pelos maus resultados dos indicadores educacionais; ou vê-los simplesmente como vítimas das más condições estruturais dos sistemas educativos. Nem vítima nem culpado!
Só com substanciais melhorias no tripé formação inicial e continuada, condições de trabalho, salário e carreira os professores, assim como os outros profissionais da educação, serão devidamente valorizados. Afinal, sem eles o Brasil não poderá garantir o direito humano à educação pública de qualidade para todos.
Dados do Censo Escolar 2011 mostram que na educação básica, não só cresceu o número de docentes, como aumentou a proporção de professores com formação superior. O Brasil possui hoje 2.039.261 professores, um aumento de 15.513 profissionais nos últimos dois anos. Desse total, 82% são mulheres e 22% trabalham em duas ou mais escolas. Embora indiquem crescimento (necessário) da população dos professores, estes dados reforçam a preocupação com a formação e as condições de trabalho da categoria. Entre 2010 e 2011, a proporção de professores com ensino superior que lecionam na educação básica cresceu 7,6%, mas a defasagem ainda é grande. Não possuem curso superior: 43,1% dos professores da educação infantil, 31,8% dos anos iniciais do ensino fundamental, 15,8% dos anos finais do ensino fundamental e 5,9% do ensino médio. Dos mais de dois milhões de docentes atuando na educação básica, 380 mil são alunos da educação superior, sendo 185 mil matriculados em Pedagogia, que conta hoje com mais de 110 mil estudantes matriculados em cursos a distância.

As instituições de ensino superior (IES) privadas detêm aproximadamente 58% do total de matrículas de licenciatura e pedagogia 2; grande parte em cursos noturnos e 51% das vagas a distância, em instituições exclusivamente de ensino, em detrimento da pesquisa e extensão. Tais condições desfavorecem a formação teórica e prática, os estágios de docência e
a formação cultural mais ampla, necessária à atuação docente na educação básica.
Os atuais programas de formação resumem-se a ações emergenciais para o atendimento dos professores em exercício sem formação superior ou específica para a área em que atuam, em cursos de segunda licenciatura ou complementação pedagógica, de curta duração em período de férias e recesso. Persiste, nos cursos de licenciatura, a velha divisão entre formação nas áreas de conhecimento (oferecida pelos institutos específicos) e formação no campo das teorias e práticas pedagógicas (oferecida pelos centros e faculdades de educação). Uma base comum que articule esses espaços formativos é uma exigência histórica que não tem encontrado apoio nas atuais políticas públicas de formação.
A formação continuada ainda é tratada como espaço de treinamento e cursos isolados, o que dá margem à corrida por títulos em cursos de caráter pontual, descontínuo, sem vínculos com as necessidades da escola e dos alunos. Em muitos casos, essas ações baseiam-se numa relação simplificadora entre qualidade educacional e padronização de práticas pedagógicas, incidindo sobre o desenho da política educacional local, a organização do trabalho docente e o projeto pedagógico.
Como resultado da proposição do movimento dos educadores, alguns avanços foram alcançados, como a Política Nacional de Formação do Magistério e dos Profissionais da Educação Básica 3. Destaca-se a instituição de fóruns estaduais permanentes de apoio à formação docente em cada Estado, com a responsabilidade de elaborar o Plano Estratégico da Formação e criar as condições (administrativas, financeiras e pedagógicas) para o pleno desenvolvimento dos programas de formação. No entanto, as ações no âmbito federal padecem de fragmentação. E a atuação de grande parte dos fóruns estaduais ainda é determinada pelas necessidades da formação superior dos professores em exercício, restrita a programas de caráter emergencial e em alguns casos apenas para administrar prazos e metas do MEC. A formação inicial e continuada deve ser concebida como um contínuo, um conjunto de princípios que perpassam ações, projetos e programas de formação, valorização e crescimento profissional, o que implica desenvolver ações de caráter massivo e com qualidade elevada para mais de 2 milhões de professores, em regime de colaboração e cooperação entre União, Estados e Municípios. É preciso romper com a concepção de formação reduzida ao manejo adequado dos recursos e técnicas pedagógicas e superar a dicotomia entre formação pedagógica e formação no campo de conhecimentos específicos. A atividade docente deve dar o tom, a base e a dinâmica da formação inicial e continuada; as ações formativas devem promover a socialização das experiências entre os professores e sua auto-organização em grupos de estudos e investigação sobre o trabalho docente e as escolas.
O salário médio dos professores no Brasil é 38% menor do que o dos demais profissionais com nível superior completo ou incompleto. Entre 47 profissões, a de professor de ensino fundamental das séries iniciais figura na 31ª posição, com média salarial de R$ 1.454 – menos do que ganhavam, em média, corretores de imóveis (R$ 2.291), caixas de bancos (R$ 1.709) e cabos e soldados da polícia militar (R$ 1.744). Além disso, 10,5% dos professores da educação básica possuem uma segunda ocupação fora do ensino, ou um “bico”.
A flexibilização das relações de trabalho acompanha as baixas remunerações. Cresce o número de professores contratados temporariamente e em condições precárias nas redes públicas. Segundo o Censo do Professor de 2009, um em cada cinco professores da rede pública é admitido em caráter temporário. Eram mais de 300 mil profissionais nessas condições, sendo 53,5% do total de professores da rede estadual de Minas Gerais, 48,8% em Mato Grosso, 36% em Pernambuco e 47% no Estado de São Paulo. Dos 26 Estados mais o Distrito Federal, 10 não pagam o piso salarial nacional do magistério 5: Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe. Outros 10 Estados não cumprem integralmente a lei, pois não garantem que 1/3 da jornada de trabalho seja para hora-atividade: Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, São Paulo, Tocantins. Apenas 5 Estados e o DF
cumprem a Lei do Piso: Acre, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Pernambuco e Rondônia ..
O piso deve ser o vencimento inicial da carreira, ou seja, não podem ser somadas gratificações e outros bônus para atingir a remuneração mínima. Sua implementação como vencimento inicial se reflete em todos os níveis da carreira. A composição da jornada deve garantir no mínimo 1/3 da carga horária para a realização de atividades fora da sala de aula (reuniões pedagógicas, planejamento, formação, correção de trabalhos, etc.).

http://arquivo.campanhaeducacao.org.br/semana/2013/folder_sam2013_final.pdf

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