segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SP dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional

TALITA BEDINELLI

DE SÃO PAULO

Leonor, 58, professora do 3º ano do fundamental, passou a ter crises nervosas durante as aulas. Várias vezes gritou com os alunos e chorou em plena sala. Ficava tão nervosa que arrancava os cílios com as próprias mãos e mordia a boca até sangrar.

Ela procurou ajuda médica e hoje está de licença. Casos como o dela são comuns entre professores.

Rafael Andrade/Folhapress
A professora Nadia de Souza, 54, do Rio, que diz ter sofrido ameaças, toma medicamentos e não quer voltar a dar aulas
A professora Nadia de Souza, 54, do Rio, que diz ter sofrido ameaças, toma medicamentos e não quer voltar a dar aulas

Recentemente, dois docentes viraram notícia por ataques de fúria na sala de aula: um, de Caraguatatuba (litoral de SP), gritou e xingou alunos e danificou cadeiras da escola. Outro, do Espírito Santo, jogou um notebook durante um debate com estudantes de jornalismo.

Relatos de professores à Folha mostram que a bagunça da sala, somada às vezes a problemas pessoais, leva a reações como batidas de apagadores, gritos, xingamentos e até violência física. Atos que acabam afastando muitos docentes das aulas.

Só na rede estadual de SP, com 220 mil professores, foram dadas, de janeiro a julho, em média 92 licenças por dia a docentes com problemas emocionais. No período, foram 19.500 -o equivalente a 70% do concedido em todo o ano de 2009 por esses motivos, diz a Secretaria de Gestão Pública de SP.

O dado não corresponde ao número exato de professores, pois um mesmo docente pode ter renovado a licença durante este período.

"Batia com força o apagador nos armários. Tive muitas crises de choro durante as aulas, gritei com alunos", diz a professora Eliane, 64.

Ela está afastada por causa do estresse. "Eu não quero mais voltar para a sala de aula. Parecia que eu estava carregando uma bola daquelas de presidiário nos pés."

Daniela, 40, também não quer mais voltar. Ela tirou uma licença de 90 dias depois de "explodir" na sala de aula e gritar com os alunos. Foi socorrida por colegas.
Docente do 3º ano do fundamental (alunos com oito anos), diz ter sido ameaçada e agredida pelos estudantes.

As entrevistadas tiveram os nomes trocados.

Casos de "explosão" como esses podem ser sintomas de um distúrbio chamado histeria, segundo Wanderley Codo, do laboratório de psicologia do trabalho da Unb (Universidade de Brasília).

Desde 2000, o professor desenvolve pesquisas com professores e funcionários da área de educação e constatou que 20% dos professores sofrem de histeria.

"O trabalho do professor é um trabalho de cuidado, que exige a necessidade de um vínculo afetivo. Mas um professor que tem 400 alunos não tem como estabelecer esse tipo de vínculo."

FONTE; Folha de São Paulo

2 comentários:

Val disse...

DIGNIDADE, APENAS...
Estamos prestes a chegar a mais um 15 de outubro, data em que o país inteiro se dedica a homenagear professoras e professores. Tudo muito semelhante a datas comemorativas que existem muito mais a serviço de uma “pro forma” sem uma reflexão maior, do que realmente “homenagear”.
Uma data, pode-se dizer vazia do seu sentido absoluto, quando por todos os rincões do Brasil encontramos professoras e professores ultrajados nos seus direitos mais básicos. Há muito tempo em nosso país o profissional da Educação deixou de ocupar um papel de destaque, de relevância, apesar dos discursos apaixonado de campanhas políticas. Uma pesquisa pelos estados e municípios já nos dão uma nossa clara deste fato. E no nosso caso específico, basta verificar o decréscimo que viemos sofrendo neste último período, e o que é mais lastimável, a perda financeira é apenas umas destas, mas a que mais nos atinge enquanto profissional, é quando não respeitam a nossa carreira. Quando ela é posta como vilã no ajuste fiscal ou quando insinuam que ela atravanca o desenvolvimento de uma cidade. Há que se cortar gastos; comecemos pela Educação e pela Saúde.
O nosso dia a dia é muito corrido, entra período, sai período, planilhas, reuniões, dados, provinhas mil..., e nós, quando paramos para pensar no que está nos acontecendo? Os prefeitos, secretários, se reúnem entre os seus, discutem, combinam, traçam estratégias. E nós, fazemos o quê, enquanto eles decidem nosso destino?
Não estou sendo pessimista, amo minha profissão, fiz uma escolha consciente. O que não posso suportar é o descaso de nossos governantes, a falta de ética e comprometimento com a Educação. E quando chega a data comemorativa, geralmente armam um circo, e que legal; quem são os protagonistas?
A homenagem que quero e creio ser justa, é o respeito ao meu trabalho, a minha carreira e a minha categoria. É poder ganhar meu salário justo com o investimento feito e com a dedicação que ele merece, é não ter “constrangimento” por ter tido um dia, um dos melhores salários da região.
Neste dia 15, nada mais quero do que DIGNIDADE.
Valderes Dávila Koenig

Anônimo disse...

QUE HORROR GENTE O QUE MAIS VAI ACONTECER? OLHA NÃO QUERO SER PESSIMISTA E NÃO SOU . SEMPRE FUI MUITO OTIMISTA E ALTO ASTRAL MAS ESTOU MT PREOCUPADA COM NOSSA SITUAÇÃO . O QUE FAZER?